"Eu lendo e pesquisando pela net, texto interessantes ou mesmo alguma novidade, encontrei este texto no site da SACI, e penso o mesmo que Gaspar Garcia, não podemos mais aceitar que usem nossa imagem para outros fins que não seja contribuir para nossa luta e cidadania.
Seque a matéria na integra, leia e veja que ele tem muita razão no que fala..."
TEXTO DE VINÍCIUS GASPAR GARCIA
Eu não assisti, mas me contaram. Em conversa com uma amiga fiquei sabendo que, no último sábado, o apresentador Luciano Huck exibiu uma matéria cujo principal personagem era uma pessoa com deficiência, amputado das duas pernas. Em resumo, depois de mostrar sua história de luta e superação, o programa oferecia uma “surpresa” ao personagem: suas tão sonhadas próteses! Todos choram, se emocionam e ficam felizes no sábado à tarde.
Nada contra a ajudar quem precisa, mas o episódio merece uma reflexão crítica. Na minha opinião, esta forma de abordar a questão da deficiência reforça uma visão assistencialista, piedosa e que deveria estar ultrapassada sobre o tema. Além disso é, no mínimo, questionável a “boa ação” que tem por trás interesses comerciais, estratégias de marketing, busca de maior audiência ou coisa que o valha.
No imaginário popular, altamente afetado por programas deste tipo, histórias como esta reforçam estereótipos culturalmente associados às pessoas com deficiência: somos um misto de “super-heróis” com “coitadinhos”. A nossa simples existência é “um exemplo de vida” e, ao mesmo tempo, dependemos da caridade alheia para sobreviver. Tais marcas ou rótulos dificultam o entendimento daquilo que deveria ser óbvio: pessoas com deficiência não são, em função desta condição, melhores ou piores do que as outras; são cidadãos com direitos e deveres, assim como todos.
Evidentemente que o personagem agraciado pelo programa se sentiu feliz e contemplado, mas e os outros milhões de pessoas com deficiência sem acesso a recursos ou equipamentos básicos? Será que não seria feito melhor uso da televisão – uma concessão pública – a discussão sobre as razões pelas quais as pessoas com deficiência encontram tais problemas?
A falta de acesso a uma prótese, a insuficiência de material para sondagem nos postos de saúde, os preços abusivos de equipamentos necessários às pessoas com deficiência, entre outros problemas, não podem ser repetidamente apresentados como questões individuais, resolvidos por meio de boa vontade alheia.
E, no caso em questão, esta “boa vontade” precisa ser qualificada, pois não se trata de uma ação de caridade anônima, desprovida de interesses particulares. Vamos ser claros: do apresentador à empresa que doou a prótese, passando pelos patrocinadores do programa, todos ganham com a exposição da história de superação e recompensa do nosso personagem com deficiência.
Como coloquei no início, não assisti ao programa, não sei detalhes da matéria e espero não estar cometendo injustiças. Seja como for, não quis deixar passar em branco esta reflexão porque, costumeiramente, a imprensa – por meio de seus jornalistas, apresentadores e reportes – “usa” a condição da deficiência para insuflar sentimentalismos, emoções e similares...o que, em geral, dá boa audiência, não é mesmo?