segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cadeirante tira habilitação em Campo Grande para pilotar triciclo especial batizado de ‘Biga’


O carioca José Henrique Domingues, de 59 anos, tornou-se o primeiro no estado a fazer a inclusão dessa categoria na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MS). A bordo do triciclo especial, ele foi aprovado no exame prático realizado no pátio do órgão, em Campo Grande.

Domingues, que mora no Rio de Janeiro e trabalha como técnico em contabilidade, conta que é cadeirante há quatro anos, desde que começou a ter complicações por causa da esclerose múltipla. No ano passado, depois de ler sobre o triciclo especial, ele decidiu tirar a habilitação no Rio de Janeiro, mas esbarrou na desinformação.  

“Cheguei ao Detran do Rio, mas lá ninguém sabia como aplicar as provas. Diziam que não tinha jeito. Juntei várias informações sobre o triciclo e protocolei um processo, aguardei quatro meses e não me deram resposta até hoje. Aí decidi viajar até Campo Grande para comprar o triciclo e tirar a carteira”, relata.


O Detran de Mato Grosso do Sul é o único a dispor de um centro de formação de condutores voltado aos deficientes físicos, de acordo com o órgão. As aulas teóricas podem ser feitas em centros convencionais, e as aulas práticas nas categorias A e B são oferecidas de graça pelo departamento. O centro possui automóveis adaptados e um triciclo especial do mesmo modelo que foi adquirido por Domingues.

“Ele começou como todo aluno, com dificuldades no início, achando que não daria conta. Agora ele está aí, aprovado”, diz o instrutor.

 
O examinador Sílvio Ângelo da Silva, que acompanhou as manobras do cadeirante no dia da prova, disse que ele não perdeu nenhum ponto durante o percurso. “Ele fez passagem de nível, conversão, obedeceu aos semáforos e às placas, trocou de pista, tudo de forma correta”, afirmou.

Após saber do resultado, Domingues disse esperar que outros cadeirantes como ele possam tirar a CNH da categoria A. “Isso vai beneficiar muita gente, porque é chato depender dos outros para tudo. Agora vou poder ir sempre que quiser à praia, ao centro da cidade.”

Características

 
O nome de “batismo” do triciclo é Biga, e o visual remete aos carros de combate usados na Antiguidade. O motor importado de 100 cilindradas pode desenvolver velocidade nominal de 80 km/h, mas o manual recomenda que o condutor trafegue em segurança a no máximo 60 km/h. O câmbio automático é composto por três marchas à frente e uma à ré, que são indicadas por luzes no painel.

A aceleração fica no punho direito, e os dois manetes acionam os freios. O manete esquerdo possui ainda um mecanismo que ativa o freio de estacionamento. Velocímetro, indicador do reservatório de combustível e buzina ficam no guidão. A capacidade do veículo é para apenas uma pessoa.

O cadeirante não precisa de auxílio de terceiros para usar o triciclo especial. Uma alavanca faz com que a plataforma seja rebaixada ao nível do chão, e corrimãos servem de apoio para subir ou descer do veículo. Travas garantem que a cadeira de rodas não se movimente durante a condução do triciclo. De acordo com a fabricante, o preço do produto é de R$ 15 mil.

 
Como um veículo zero
 

Segundo o idealizador e fabricante Oraci Silva da Costa, a ideia começou a sair do papel há cinco anos, quando ele se aposentou como professor de ensino industrial. O amplo conhecimento sobre mecânica e a paixão por motocicletas somaram-se à intenção de desenvolver veículos especiais. Desde então já foram comercializadas 13 unidades, sempre sob encomenda.

As peças não são reaproveitadas de outros veículos. “É o único triciclo do país totalmente projetado, diferentemente de outras motocicletas adaptadas para cadeirantes”, explica Costa. A vantagem, segundo ele, é que o triciclo sai da linha de montagem com o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). “É como um carro zero quilômetro que se compra em uma loja”, afirma.

Fonte: G1

Acessibilidade a Hóspedes com Deficiência Visual em Hotéis: soluções de Inclusão de pessoas cegas e com baixa visão

Várias leis e normas nacionais e internacionais surgiram desde 1981, proclamado como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, e o Brasil também começou a introduzir este tema, mas estas iniciativas são ainda tímidas e muitas não atendem a todas as deficiências. A acessibilidade para pessoas com deficiência visual, assunto de interesse da minha pesquisa, carece de maiores políticas, normas e ações, tanto do poder público quanto das organizações empresariais.

No Censo do IBGE (2000), o Brasil apresentava 16,6 milhões de pessoas com algum grau de deficiência visual. Porém, a realidade atual está mais representada pelos resultados preliminares do Censo 2010, onde temos mais 35 milhões de brasileiros com deficiência visual, 31% destes só na região Nordeste. Estes dados revelam que esta população também tem potencial de despertar interesse nos negócios turísticos, especialmente do setor hoteleiro, e de ser alvo de formulações de políticas e ações mais sistemáticas que a inclua socialmente na atividade turística e promova sua cidadania, qualidade de vida e saúde. Além disso, uma pesquisa do IBGE (2011) revelou que apenas 1,3% das unidades habitacionais nos estabelecimentos hoteleiros do Brasil são adaptadas, alertando a reformulação urgente dos projetos nestes locais.

A pesquisa que concretizei apresenta um diagnóstico quanto à acessibilidade aos deficientes visuais nos hotéis de luxo ou superior da cidade de Natal, localizada no estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Foi realizado um mapeamento em 16 hotéis de 4 e 5 estrelas da cidade, utilizando a Lista de Verificação de Acessibilidade para Pessoas com Deficiência Visual em conformidade com NBR 9050 e informações levantados em entrevistas e questionários online com pessoas cegas ou baixa visão. Um destes hotéis foi escolhido para estudo de caso, no qual foram realizadas hospedagens simuladas com pessoas com deficiência visual, a fim de identificar, a partir de métodos de análises cognitivas, suas dificuldades com relação à falta de acessibilidade.

Os resultados do mapeamento evidenciaram, entre várias outras coisas, que apenas 7 destes hotéis atingiram até 50% dos itens do protocolo, enquanto nenhum deles chegou a 70% dos itens. Nas atividades simuladas, vimos que o hotel onde foi realizada esta etapa apresenta carência em atender adequadamente o hóspede com deficiência visual, pois, além de não possuir funcionários capacitados a este atendimento, não dispunha de recursos como sinalizações em Braille, pisos táteis ou sinalização sonora onde necessitava.

As análises permitiram a geração de recomendações de transformação ou inserção da sinalização, equipamentos e treinamentos dos funcionários, adequando o hotel para a utilização e entendimento das pessoas com deficiência visual de forma autônoma, segura e confortável às suas necessidades e limitações. Tudo isso por acreditar que disponibilizar um serviço de qualidade é atender efetivamente a essa demanda, incluindo-os cada vez mais em programas turísticos.

Larissa Santos – Designer de Interiores. Mestranda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisadora do Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia (GREPE), onde realiza pesquisas sobre ergonomia e acessibilidade para pessoas com deficiência visual.

Fonte: Usina da Inclusão