Várias leis e normas nacionais e internacionais surgiram desde 1981, proclamado como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, e o Brasil também começou a introduzir este tema, mas estas iniciativas são ainda tímidas e muitas não atendem a todas as deficiências. A acessibilidade para pessoas com deficiência visual, assunto de interesse da minha pesquisa, carece de maiores políticas, normas e ações, tanto do poder público quanto das organizações empresariais.
No Censo do IBGE (2000), o Brasil apresentava 16,6 milhões de pessoas com algum grau de deficiência visual. Porém, a realidade atual está mais representada pelos resultados preliminares do Censo 2010, onde temos mais 35 milhões de brasileiros com deficiência visual, 31% destes só na região Nordeste. Estes dados revelam que esta população também tem potencial de despertar interesse nos negócios turísticos, especialmente do setor hoteleiro, e de ser alvo de formulações de políticas e ações mais sistemáticas que a inclua socialmente na atividade turística e promova sua cidadania, qualidade de vida e saúde. Além disso, uma pesquisa do IBGE (2011) revelou que apenas 1,3% das unidades habitacionais nos estabelecimentos hoteleiros do Brasil são adaptadas, alertando a reformulação urgente dos projetos nestes locais.
A pesquisa que concretizei apresenta um diagnóstico quanto à acessibilidade aos deficientes visuais nos hotéis de luxo ou superior da cidade de Natal, localizada no estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Foi realizado um mapeamento em 16 hotéis de 4 e 5 estrelas da cidade, utilizando a Lista de Verificação de Acessibilidade para Pessoas com Deficiência Visual em conformidade com NBR 9050 e informações levantados em entrevistas e questionários online com pessoas cegas ou baixa visão. Um destes hotéis foi escolhido para estudo de caso, no qual foram realizadas hospedagens simuladas com pessoas com deficiência visual, a fim de identificar, a partir de métodos de análises cognitivas, suas dificuldades com relação à falta de acessibilidade.
Os resultados do mapeamento evidenciaram, entre várias outras coisas, que apenas 7 destes hotéis atingiram até 50% dos itens do protocolo, enquanto nenhum deles chegou a 70% dos itens. Nas atividades simuladas, vimos que o hotel onde foi realizada esta etapa apresenta carência em atender adequadamente o hóspede com deficiência visual, pois, além de não possuir funcionários capacitados a este atendimento, não dispunha de recursos como sinalizações em Braille, pisos táteis ou sinalização sonora onde necessitava.
As análises permitiram a geração de recomendações de transformação ou inserção da sinalização, equipamentos e treinamentos dos funcionários, adequando o hotel para a utilização e entendimento das pessoas com deficiência visual de forma autônoma, segura e confortável às suas necessidades e limitações. Tudo isso por acreditar que disponibilizar um serviço de qualidade é atender efetivamente a essa demanda, incluindo-os cada vez mais em programas turísticos.
Larissa Santos – Designer de Interiores. Mestranda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisadora do Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia (GREPE), onde realiza pesquisas sobre ergonomia e acessibilidade para pessoas com deficiência visual.
Fonte: Usina da Inclusão
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