Os moradores do bairro Liberdade I estão revoltados com a agressão sofrida pelo jovem Bruno Thales, 20 anos. Na noite desta terça, 28, o estudante, surdo-mudo, foi abordado por um grupo formado por quatro pessoas, que, de acordo com a família, seriam guardas civis a bordo de uma viatura da Ronda Ostensiva Municipal (ROMU).
O MOSSORÓ HOJE foi até a casa de Bruno e conversou com seus familiares sobre o ocorrido. Conforme relato de Fátima Buriti, mãe do jovem, era por volta das 20h30 quando ele passou em frente à igreja onde Fátima estava, nas proximidades do antigo Hotel Normandie, na Avendia Presidente Dutra, e informou que se dirigia para casa naquele momento. Pouco tempo depois, ela recebeu a informação que o estudante tinha sido levado em uma viatura.
A dona de casa conta em video que filho sofreu lesões na boca e no pescoço, além de ter tido a roupa rasgada. Ela acredita que se o filho ver os agressores novamente vai reconhece-los.
“Na hora que chegou a notícia na igreja fomos para a Delegacia, mas levaram ele para o mato, perto do IFRN, espancaram, colocaram spray de pimenta nos olhos dele, tá com a boca cortada, o pescoço engargelado (sic), ele chorava, se ajoelhava, pedia que não fizessem nada. Deixaram ele no mato, aí ele foi para a casa da irmã, que era mais perto, chegou todo ensanguentado”, detalha Fátima.
Conforme Bruno contou a sua família, os homens estavam fardados e em viatura com o nome ROMU. “Ele disse que era Polícia e batiam nele com cassetete. Fiquei até à 0h na Delegacia, quando nos ligaram e disseram que ele tinha chegado em casa”, acrescenta a mãe do jovem, destacando que no momento em que foi abordado, uma outra pessoa estava cruzando a pista junto com Bruno. “Como houve assaltos na região, podiam ter suspeitado dele, mas pegassem e levassem para a Delegacia, mas aí pegaram e arrocharam peia no mei do mundo (sic) neles e soltaram”, pontua.
Sobre os assaltos citados por Fátima, a informação inicial é de que uma moto havia sido tomada de um outro jovem na região, no entanto, esse jovem, conhecido da família, já havia afirmado que Bruno não teria sido o autor do roubo. “Ele é uma benção, nunca deu trabalho. O negócio dele é escola, igreja e jogar bola”, acrescenta, revelando ainda que Bruno é filho adotivo.
“A Justiça vai vir de Deus”, afirma irmão do agredido
O ex-candidato a vereador Walison Ferreira, conhecido como Neném do Liberdade, também conversou com a equipe do MOSSORÓ HOJE. Revoltado com a agressão sofrida pelo irmão, ele afirma que os agressores não aceitaram ver nem mesmo a carteira de deficiente de Bruno e cobravam que ele assumisse a culpa pelo roubo.
“Não queremos dinheiro, estamos atrás de Justiça. Eu sou a favor de Polícia até debaixo d’água, agora Polícia que saiba trabalhar, guardas que saibam trabalhar. Agora não são todos na Guarda que sabem trabalhar, há muitos despreparados. Um rapaz desse, surdo e mudo, vir quatro meliantes de farda, para bater em uma pessoa que não sabe se defender, será que essa pessoa tem filho? A Justiça vai vir de Deus, somos evangélicos, até ele”, relata.
Advogados já foram acionados
A família de Bruno Thales já acionou uma equipe de advogados, que foi à residência do jovem na tarde desta quarta, 29. Ênio Villaça e Thariny Lira contam que o crime praticado contra o estudante é uma “violação de direitos humanos sem precedentes”.
“Houve tortura, cárcere privado. A gente vai também acionar o Município de Mossoró para requerer uma indenização para cobrir os danos sofridos pelo rapaz. Foi uma violação de direitos humanos sem precedentes, ele nem teve direito de se defender, o pessoal queria que ele falasse, fiquei muito chocado”, enfatiza Ênio Villaça.
O caso foi levado à 1ª Delegacia de Plantão. A família de Bruno prestou Boletim de Ocorrência (BO). O jovem também passou por exame de corpo de delito.
Município diz que denúncia está sendo apurada
A Secretaria Municipal de Comunicação Social enviou nota ao MOSSORÓ HOJE sobre a denúncia feita pelo familiares de Bruno Thales. Confira na íntegra:
"O comandante da guarda municipal de Mossoró, coronel José Ricardo Godinho Rodrigues, informa que as acusações de espancamento ao adolescente Bruno Talles, que é surdo, por guardas municipais, na noite desta terça-feira, 28, já estão sendo apuradas.
Segundo ele, já há um relatório e as investigações serão acompanhadas pela corregedoria. Todas as medidas disciplinares legais serão adotadas se houver comprovação das denúncias.
O comandante da guarda e o secretário de Segurança, general Elieser Girão, repudiam qualquer tipo de atrocidade e asseguram rigor na apuração dessas denuncias. “Não compactuamos com qualquer de violência”, afirma o secretário Girão, completando a garantia do comandante da guarda de que o interesse do município é esclarecer os fatos e adotar as medidas cabíveis"
Fonte: Mossoró Hoje