Para a maioria das pessoas, comprar uma roupa é uma tarefa simples. Tirando a questão de tamanho, de modo geral, o que difere um modelo do outro são detalhes estéticos. Zíper ou botões, decotado ou sem decote, mangas compridas ou curtas… Vai de gosto.
UM MODELO CADEIRANTE USA UMA DAS CAMISAS DA ADAPTWEAR
(FOTO: DIVULGAÇÃO)
No entanto, existe um mercado onde os detalhes estéticos fazem toda a diferença: o de roupas adaptadas para pessoas com deficiência ou até mesmo com algum impedimento momentâneo de movimentação. Para essa turma, comprar roupa pode ser uma saga – muitas vezes, sem sucesso. Porque o caimento da peça em alguém que passa a maior parte da vida sentada, por exemplo, é diferente do que em alguém que não tem problemas para andar. Mas, no Brasil, até o ano passado essas pessoas tinham que… se adaptar ao que havia no mercado.
Pensando nesse público, a empresária Ana Cristina Ekerman lançou, em dezembro de 2013, sua marca, Adaptwear, pioneira no segmento no Brasil. Inicialmente, as vendas só acontecem pela internet (por meio do site
adaptwear.com.br). Entre as peças, estão camisas sociais para homens que, aparentemente, não diferem em nada de camisas normais. A não ser o fato de que os botões são puro enfeite. O fechamento delas é feito por meio de um velcro. Outro exemplo são as mini-saias, que já vêm acompanhadas de um mini-shorts. Há também a camisa com uma bolsa interna para guardar a sonda de alívio, usada por quem tem dificuldade em reter a urina.
Além da linha de roupas, a loja virtual revende acessório, como um cabide para cegos. Funciona assim: ele é equipado com dois botões. Ao apertar um deles, a pessoa grava em voz alta o que é aquela peça. Por exemplo: regata verde de algodão. Ao acionar o outro botão, escuta a gravação.
Para chegar à ideia da marca, Ana Cristina deu algumas voltas na carreira. Hoje, ela identifica três pontos fundamentais em sua trajetória que impulsionaram o novo negócio.
O primeiro foi a habilidade e o prazer de trabalhar com inovações, que ela identificou ao trabalhar em algumas empresas. Formada em Administração, passou pela Kodak, nos anos 90, onde participou do lançamento da câmera fotográfica descartável. Em seguida, no Grupo Estado, integrou a equipe que reformulou a lista telefônica. Na Microsoft, acompanhou um projeto em que o Brasil foi mercado teste de um produto que, ao final, não vingou (um computador com programas pré-pagos, que funcionavam por meio da compra de cartões).
O segundo aspecto importante se revelou em 2008, quando ela descobriu que estava com câncer de mama. Enquanto fazia o tratamento médico, Ana Cristina passou a trabalhar em casa, como consultora de empresas. Já curada, foi convidada para gerenciar uma ONG voltada para o câncer de mama, a Américas Amigas, também no esquema home office. “Eu era a faz-tudo”, afirma. “Isso me deu uma segurança: se eu posso gerenciar uma ONG sozinha, da minha casa, então posso ter meu próprio negócio”.
Para fechar o tripé, veio a ideia do produto. Ela tem uma prima que mora nos Estados Unidos e é mãe de um garoto que tem deficiência intelectual. Sem encontrar modelos “bonitinhos” para o filho, a moça resolveu criar sua marca nos Estados Unidos.
Ana Cristina aplicou a ideia por aqui. Antes, estudou o mercado por um ano. “O Brasil nunca tinha visto uma marca voltada para pessoas com algum tipo de deficiência”, afirma. Encontrou referências na Europa e contratou uma estilista para desenvolver as peças. Para a empresária, tão importante quanto a funcionalidade, é a estética. “Todo mundo quer vestir uma roupa bonita”, diz Ana Cristina. Nos próximos anos, ela pretende expandir a marca para lojas físicas e distribuir seus produtos para grandes magazines.