terça-feira, 5 de maio de 2015

Injeção no olho pode reverter cegueira em diabético

Ilustração de um olho humano com várias informações ao redor.

Uma nova geração de medicamentos tem conseguido reverter a perda da visão provocada pelo diabetes. São os chamados antiangiogênicos, injeções aplicadas diretamente no olho do paciente que estancam as hemorragias na retina comuns em diabéticos e, diferentemente de outros tratamentos convencionais, como o laser, conseguem recuperar substancialmente a capacidade perdida de enxergar.

Excesso de açúcar no sangue por tempo prolongado provoca sérios danos à visão e, não raro, leva à cegueira. Esse é um problema que atinge em cheio os brasileiros. Dos 12 milhões de diabéticos no país, um terço tem algum tipo de dano na retina provocado pela doença, as chamadas retinopatias diabéticas. 

Diante das projeções da Organização Mundial da Saúde, de que o número de diabéticos no Brasil deve chegar a 19 milhões em 2035, o prognóstico torna-se sombrio para essa fatia de 6,6 milhões de pessoas, que podem perder parte da visão ou mesmo ficar cegas. 

Gravidade 

Os antiangiogênicos, já autorizados desde o ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil para tratar outra doença da retina, a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), têm se mostrado um importante aliado também no combate ao edema macular diabético, uma retinopatia grave. A alta concentração de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos e provoca vazamento de líquidos e proteínas na mácula, pequena região da retina responsável pela visão central e a percepção de cores. O edema macular é o espessamento ou inchaço da retina, provocado por esse vazamento de fluido. 

“A mácula é o centro da retina. É por meio dela que se consegue fazer ações cotidianas, como ler, digirir e trabalhar”, explica o diretor científico da Fundação Oftalmológica da Colômbia, Francisco Rodriguez. O oftalmologista explica que o edema é uma doença silenciosa. Quando os sintomas aparecem, pode ser tarde demais. Rodriguez diz que as novas injeções intravítreas “estão modificando o curso da epidemia”. “Se combinado o uso ao controle da glicemia, menos pessoas perderão a visão por causa da diabetes”, afirma o especialista. 

No Brasil, o medicamento é comercializado com o nome de Eylea. O nome genérico é aflibercept. De acordo com a encarregada da Bayer Oftalmologia e Neurologia no país, Cecília Moeller Achcar, o registro do Eylea foi solicitado pelo laboratório à Anvisa há mais de um ano, mas ainda não houve retorno. Segundo a agência, é possível que o uso seja autorizado ainda em 2015. 

Tratamento

O diretor de oftalmologia da Bayer na América Latina, Daniel Janer, explica que, após o diagnóstico do edema por exames específicos e a prescrição do médico, a aplicação da injeção dura cerca de 5 minutos. É indicada uma injeção por mês por cinco meses e, em seguida, uma vez a cada dois meses. O medicamento é usado junto com as demais intervenções para controlar o açúcar no sangue, a pressão arterial e o colesterol. 

“No diabetes, é como se ocorresse um curto-circuito nos vasos sanguíneos. São como pequenos aneurismas que provocam a perda da saturação da cor”, diz. 

De acordo com ele, a atuação central do medicamento é inibir a proliferação excessiva de vasos provocadas pela proteína VEGF. 

O efeitos colateral é pressão no olho, mas, segundo o médico, não há dor. Infecções podem ocorrer, mas são raras. 

Descaso faz comerciante ficar cego

Diabético, o comerciante colombiano Jorge Apey Castro, 65 anos, não fazia exames regulares de visão. Há sete anos, quando jogava tênis com um amigo, sentiu o cenário escurecer e ficou atordoado. “Passei a não ver absolutamente nada”, desabafa Castro, que é casado e tem três filhos. Após o uso das injeções intravítreas, no ano passado ele começou a ver de novo. “Já consigo caminhar e ver figuras”, relata.

A perda significativa da qualidade de vida do comerciante colombiano é um exemplo clássico do que acontece com grande parte dos portadores de diabetes, que negligenciam a doença e sofrem consequências graves. “Após o diagnóstico de diabetes, a maior preocupação deve ser o controle da doença por uma equipe multidisciplinar, pois é para a vida toda”, afirma o diretor científico da Associação Colombiana de Diabetes, Aschner Pablo Montoya, que também é professor universitário. Segundo ele, é fundamental também mudar o estilo de vida de toda a família, adotando alimentação saudável, exercícios e evitando o cigarro. 

FDA autoriza medicamento 

Em março, a Food and Drugs Administration (FDA) liberou o uso do aflibercept para tratar o edema diabético nos Estados Unidos. O FDA tomou a decisão após realizar estudo com 679 participantes. Eles foram aleatoriamente designados para receber Eylea ou fotocoagulação macular a laser, que cauteriza pequenas áreas da retina. Na semana 100, os participantes tratados com Eylea apresentaram melhora significativa na severidade de sua RD, em comparação com os pacientes que não receberam Eylea.
Fonte: Site do Jornal O Tempo por Aline Reskalla.

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