sábado, 18 de abril de 2015

Baixa visão: classificação quanto ao perfil de resposta visual

Pessoas com baixa visão ou visão subnormal conseguem ler com auxílio de aparelhos e material ampliado e com contrastes
Pessoas com baixa visão ou visão subnormal conseguem ler com auxílio de aparelhos e material ampliado e com contrastes

De acordo com décima revisão de classificação estatística internacional das doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10), considera-se visão subnormal ou baixa visão quando o valor da acuidade visual corrigida no melhor olho é menor que 0,3 e maior ou igual a 0,05 ou seu campo visual é menor que 20 graus. E considera-se cegueira quando a acuidade visual se encontra abaixo de 0,05 ou campo visual menor do que 10 graus.

A Sociedade Brasileira de Visão Subnormal classifica a baixa visão com valores de acuidade um pouco diferentes. Para acessar todas as informações, clique aqui.

Faye (1990) define de forma didática três grupos de perfil de reposta visual, de acordo com a interação da doença ocular e a funcionalidade visual (correlação clínico-funcional):

Diminuição da transparência dos meios ópticos do globo ocular

São as alterações geradas pelas opacidades das estruturas oculares. As principais causas são: catarata, opacidade vítrea, lesões e ou opacidade de córnea, ceratocone e irregularidade do filme lacrimal.

Os pacientes apresentam acuidade visual reduzida de acordo com a intensidade da opacificação dos meios. Podem apresentar glare e redução da sensibilidade ao contraste.
Comparação entre Visão Normal e visão com Cataratas
Comparação entre Visão Normal e visão com Cataratas

Os auxílios possíveis são correção óptica adequada, controle da iluminação e ajuste do contraste (por meio de auxílios ópticos e não ópticos), e em alguns casos pode haver melhora da resolução ao realizar um pequeno aumento da imagem.

Defeito de campo visual central

Representam o grupo de doenças que geram diminuição da visão no campo visual central. As principais causas são: degeneração macular relacionada à idade (DMRI), retinocoroidites maculares, distrofia de cones, doença de Stargardt e lesões das vias ópticas.

As alterações funcionais podem variar dependendo do grau de envolvimento macular, manifestando-se desde uma leve distorção da imagem até um escotoma central denso (ponto escuro). Pode levar a diminuição da acuidade visual, defeito da visão de cores e redução da sensibilidade ao contraste para altas e médias frequências.

Geralmente as primeiras queixas são leitura ineficiente e dificuldade para reconhecimento de faces e expressões faciais. Nesses casos, os paciente aprende a utilizar a visão periférica por meio de posições do olhar ou da cabeça.
Comparação entre Visão Normal e Visão com DMRI


Comparação entre Visão Normal e Visão com DMRI

Os auxílios possíveis são: uso de correção óptica e de adição se necessário, ampliação da imagem retiniana (para o melhor uso da retina periférica e da região perimacular), aumento do contraste e a adequação das condições ambientais de iluminação. Nos casos em que a diminuição da sensibilidade ao contraste atinge as altas e médias frequências, a ampliação da imagem retiniana tem melhores resultados. Porém, nos casos quem apresentam também diminuição da sensibilidade ao contraste para baixas frequências, a ampliação óptica poderá não ser bem sucedida e tem indicação para recursos de videoampliação da imagem (maior controle de contraste da imagem).

Defeitos do campo visual periférico

Representam as anormalidades que geram diminuição do campo de visão periférico. As principais causas são casos avançados de glaucoma, retinose pigmentar, casos de retina fotocoagulada e doenças neurológicas.

O paciente apresenta alterações funcionais como: dificuldade de reconhecimento e de orientação no ambiente, dificuldade de localização de objetos, diminuição da resposta visual sob condição de baixa luminosidade e redução da sensibilidade ao contraste. Os defeitos de campo visual periférico podem ser divididos em duas categorias: hemianopsias (defeitos setoriais no campo de visão) e contração generalizada do campo visual. Em alguns casos, a perda do campo visual ocorre de forma paulatina e o indivíduo desenvolverá mecanismos inconscientes de compensação através de varredura do ambiente por meios de movimentos dos olhos e da cabeça, e a percepção de perda visual pode ocorrer quando esta já estiver avançada.
acessibilidadenapratica_defeitos-do-campo-visual-periferico
Comparação entre 4 imagens com problemas progressivos de visão

Existem outros auxílios além da correção óptica nos casos de perda de campo visual periférico. Nos casos de contração generalizada, pode ser utilizada a condensação da imagem (para aumento da informação visual dentro do campo visual viável). Para a condensação da imagem, pode-se utilizar os seguintes equipamentos: telescópios reversos, lentes negativas e prismas dispostos circularmente nas lentes dos óculos com a base posicionada na periferia. Os recursos de condensação da imagem podem não satisfazer alguns pacientes, pois reduzem a resolução da imagem (minificam). A ampliação da imagem retiniana fica restrita apenas a alguns casos, pois a imagem ampliada poderá ter extensão maior que o campo visual remanescente. Caso seja indicado algum método de ampliação, os que apresentam resultado mais significativo são os de videoampliação. Já nos pacientes que apresentam hemianopsia, pode-se utilizar prismas e espelhos para que a informação visual do campo lesado seja apresentada ao campo remanescente, sendo necessário que o paciente seja orientado quanto à técnica de rastreamento.

Além dos auxílios ópticos possíveis, os pacientes também devem ser encaminhados para área de orientação e mobilidade, e em muitos casos o uso de bengala ajuda o paciente a garantir sua autonomia e independência.

Dr. Paulo Miziara – Médico Residente em Oftalmologia

Fonte: Acessibilidade na Prática

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