quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cadeirante encontra no muay thai equilíbrio e força interior

Larissa trena duro ao lado do mestre Alex Paraná, em Cuiabá. Arte marcial foi forma encontrada para relaxar e controlar corpo e mente.
Larissa trena duro ao lado do mestre Alex Paraná, em Cuiabá. 
Arte marcial foi forma encontrada para relaxar e controlar corpo e mente.

De olhos bem atentos e foco a cada comando, o corpo segue cada estímulo impulsionado por uma concentração irrepreensível. Assim Larissa Vieira, de 29 anos, encontra a cada novo reflexo um movimento de esquiva ou ataque, por meio do muay thai. O corpo se funde as duas rodas que o destino lhe deu, após uma cirurgia para retirada de um tumor aos 15 anos de idade. Sem os movimentos das pernas, Larissa dá uma aula de concentração, independência e superação.

Há 30 dias frequentando a academia de muay thai do mestre Alex Paraná, o resultado é invejável. “Eu me surpreendo a cada dia com esta garota. Ela é uma batalhadora e tem evoluído a cada aula. Coisas e movimentos que pessoas sem restrições levam semanas para conseguir ela realiza em dias”, explicou o mestre. Tudo isso, segundo ele, por conta da força de vontade e da entrega aos conselhos dados durante as aulas.

A garota que trabalha como contadora em uma grande empresa da capital mato-grossense, faz pós-graduação em Auditoria e Controladoria, e ainda faz aulas de inglês à noite. Mesmo assim, ela conseguiu encontrar tempo para se dedicar à arte marcial e avança a cada dia. Larissa disse ter conquistado o equilíbrio entre corpo e alma. “Não é discurso: estou a cada dia mais equilibrada e vencendo a ansiedade que tenho. A disciplina e a atividade física me deram mais controle sobre meu corpo e mais confiança com minhas capacidades”, disse.

Após passar por anos de fisioterapia e ter feito natação, a contadora se identificou com a arte tailandesa. “A evolução por meio da fisioterapia era muito lenta e eu ficava impaciente com tudo. Cheguei a nadar por um tempo, pois adoro piscina e água. Mas com certeza o muay thay me deu algo que eu ainda não tinha encontrado”, explicou. A lutadora contou que muitos de seus amigos cadeirantes ficam em casa, o que segundo ela é um erro. “Querendo ou não ‘mente vazia é oficina do diabo’, então é muito melhor ter essa interação com o mundo e com novas pessoas que ficar depressivo dentro de quatro paredes”, comentou.

Um novo caminho

Aos 15 anos a incerteza de uma grave doença tomou conta da família e de Larissa, quando ela apresentou um tumor na medula óssea, correndo risco de ficar tetraplégica (sem os movimentos do pescoço para baixo), ou mesmo perder a vida. A cirurgia foi inevitável e Larissa perdeu os movimentos e a sensibilidade da cintura para baixo. “Eu era uma criança comum sem problema nenhum”, contou.

Com larga experiência didática com pessoas cegas (por meio do projeto Olhos da Alma), o mestre Alex Paraná resolveu experimentar e criar técnicas especiais, para que pessoas com restrições de movimentos pudessem fazer aulas. “No inicio foi complicado, tive que sentar numa cadeira de rodas para entender a mecânica da coisa. Tomei alguns tombos e virei a cadeira algumas vezes de ponta-cabeça. Tudo para conseguir desenvolver um método para ensinar novos alunos”, explicou.

Após os treinos com a nova metodologia, Alex decidiu chamar Larissa para experimentar as aulas. “Ela mora com a mãe no mesmo prédio que eu. Um dia as convidei para assistir uma aula e de pronto elas aceitaram”. Daí em diante Larissa, que já tinha uma ‘quedinha’ pelo esporte, se entregou às aulas.

“Meu amigos falaram no início que eu era doida por fazer luta e tal. Até hoje eles dizem que eu bato feito ‘mulherzinha’, mas me deram tanto apoio que eu me surpreendi”, disse a contadora, que teve mais de 3 mil acessos no vídeo da sua primeira aula, na academia.

A nova lutadora de muay thay da capital de Mato Grosso fez um convite inegável a todos os portadores de deficiência: “Hoje eu tenho confiança de chamar todos os cadeirantes de Cuiabá para começarem a fazer o muay thay. Realmente é muito bom para o condicionamento físico e mental. Não precisa ter medo nem preconceito com a arte marcial, ela é uma forma de alcançarmos equilíbrio e tranquilidade”.

Viagem marcada

Mas as surpresas vão além das expectativas. Larissa atualmente faz planos e se programa – junto com o professor – para uma viagem à terra natal da arte marcial, a Tailândia. “Fiquei lá muitos anos, para me aperfeiçoar e trazer os meus conhecimentos para Cuiabá. Agora é hora de levar os frutos dessa arte aos meus alunos, para conhecer outros lutadores e mestres”, explicou o mestre.

Larissa está ansiosa para ir até os mestres tailandeses. “É uma experiência única e indescritível. Poderei conhecer a cultura, o idioma, a culinária e os costumes do provo tailandês”, disse.

Fonte: circuitomatogrosso

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